“A fotografia é uma arte duvidosa” Roland Barthes
A fotografia tem um passado muito recente. Provavelmente, recente demais para todas as dúvidas e filosofias temáticas que todos os dias se criam e reproduzem em torno do spectrum que embalsama almas e momentos.
A história da fotografia está, inevitavelmente, muito ligada à espessa da arte do pincel, ao frio conceito nitchiano da vanglorização do eu retratado numa nua tela branca. A pintura é, comparativamente à fotografia, vazia de espontaneidade e composta por movimentos premeditadamente estudados que faziam com que algo posasse de acordo com as espectativas e fugisse à verdadeira aventura do ser. Assim, a pintura não é o primórdio da imagem fotografica mas sim o primogénito rascunho da obra prima, a fotografia. Na pintura existe um factor imagético que funciona a todo o vapor, comprimindo a realidade ao mínimo indispensável. Muitas vezes ao observar um quadro questiono-me, apesar de todo o poder estético que este tem, “será que existiu?”. Esta é a minha eterna duvida que, muitas vezes pela longevidade e pela falta de registos documentais da sua existência, não pode ser respondida nem argumentada. Mas a fotografia... ai... a fotografia! Essa sim, dá-me a real sensação do que existe, de que algo esteve lá, naquele exacto momento e naquele exacto local. E nesse momento que sou assaltada por outras perguntas que me fazem sentir viva e testemunha da passagem inevitavel e transcendente do tempo. Perguntas como: “será que ainda estão vivas as personagens da fotografia?” “onde é que eu estava nesta altura?”. Perguntas que provavelmente nunca vão ter resposta mas que me fazem sentir envolvida e participante do histórico momento da recordação.
Depois de despirmos a fotografia destes preconceitos históricos, que ridiculamente a ligam a uma evolução tecnológica do pincel e da tela, podemos falar da verdadeira essência fotográfica. O Daguerreotipo evoluiu e com ele evoluiram as mentalidades e os conceitos. Se no inicio poucos eram aqueles que distiguiam a pintura da imagem fotográfica, hoje em dia, é senso-comum que a fotografia não é estática nem compete com a perfeição exigida ao retrato pictórico.
A fotografia vale pelo principio espontâneo pelo qual se rege, pela complexa e compulsiva necessidade da captação do que é insólito e irrepetível. Isto é a fotografia contemporânea, esta é a ideia que todos os dias acompanha o mecânico clique de milhares de instrumentos que reproduzem a realidade em todo o planeta.
A imagem fotográfica é incrivelmente revolucionária, a fotografia incita atitudes e causa sensações. Mas, para isso tem que ter um ponto, um traço que chame a atenção do mais apressado dos espectadores que rotineiramente secanisa as imagens que se repetem monotonamente em diversos jornais. A fotografia não precisa de gritar, basta ser capaz de incitar o desejo, provocar uma sensação, causar algo, positivo ou negativo, a imagem tem que tocar o espectador.
Esta necessária e imprescindível necessidade de tocar o spectator que deve ser imprimida em cada fotografia é da responsabilidade do fotógrafo. Este tem que ser capaz de captar o que é essência e o que é acessório. Desta distinção depende o sucesso, mais interventivo que estético, da fotografia.
O público que assiste atento ao cronológico desenvolvimento da fotografia exige desta uma maior subjectividade. Esta ambiguidade de sentidos prende-se com necessidade que o espectador tem de ter que pensar a foto. Sentimos a obrigatoria necessidade de raciocinar sobre o objectivo final da fotografia, não queremos ser empurrados para a imagem descartável e facilmente consumível, preferimos a descoberta, o encaixar de um quebra cabeças. Mas, a aplicação desta subjectividade deve ser comedida. Não queremos que seja fácil, mas também não queremos que seja indecifrável, pelo menos para a maioria. Deste modo, a fotografia perdia todo o seu caracter interventido e seria apenas um manifesto para alguns, tornar-se-ia elitista. A fotografia é de todos e para todos a perceberem e discutirem!A fotografia trás recordações, arrasta uma infinidade de sentimentos ou simplesmente marca! Mas está intimamente ligada ao captar da espontaneidade de um gesto ou momento que são irrepetíveis perdurando no tempo e no espaço. A imagem fotográfica fica como uma impressão digital em que cada traço é único e inconfundível. Será esta uma arte duvidosa? Sim, mas nenhuma filosofia temática vai desmontar este enorme castelo de cartas que é a duvida sobre a fotografia. Às vezes basta um simpes sopro e passamos a ver tudo de uma forma diferente ou então permanecemos em bicos de pés neste castelo duvidoso que nos proporciona incriveis dicertações, não pretensiosas, sobre o mundo da fotografia.
quarta-feira, 21 de março de 2007
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